E Aí King? (2010)
Deixe um comentário02/11/2021 por eaiking
Neste primeiro disco, dei vazão a vários temas que me interessavam na época:
- A importância de relacionamentos sinceros (Armadilhas), realistas (Canino) e com tesão (Calor do Dia)
- A busca pela atividade pessoal genuína (Bom Senso e Sol na Lata)
- As dificuldades da vida adulta (Charles, Paz da Mordaça e Vô Caetano)
- Pegação e afins (Me Chama de Hippie, O Homem Mais Bonito de Goianésia e Baile)
Escolhi vários estilos que me agradam, do rock ao reggae, do dancehall ao samba-rock e passando pelo ska e pelo funk carioca com guitarras distorcidas.
A capa mostra meus delicados pés numa praia em Maragogi, Alagoas, aonde eu e minha esposa passamos a lua-de-mel. Quis representar nessa foto o trabalho que tive no disco, já que compus todas as músicas e gravei/programei os instrumentos, além de cantar. O disco foi mixado e masterizado por Rafael Maranhão no Estúdio Madruga, Brasília, em setembro/outubro de 2010.
Algumas histórias do disco incluem:
- Calor do Dia não é totalmente original, mas uma livre versão (não exatamente igual) de uma música do Yellowman, Love It. Ele é um dos grandes cantores do dancehall jamaicano da década de 80, sendo referência pra uma pancada de gente. O 311, por exemplo, aproveitou o começo de uma música dele (Mr. Chin) em All Mixed Up. A melodia de outra de suas músicas, Zunguzungunguzunguzeng, foi basicamente reaproveitada em pelo menos 14 músicas diferentes, como mostra esse artigo muito interessante. Aqui no Brasil, ele é mais conhecido por 2 menções do Planet Hemp na música Mantenha o Respeito: “Nobody move, nobody get hurt, ninguém se move, ninguém se machucará” e “Eu ouço Yellow, Buju Banton, Cutty Ranks, Shabba, porque eles não querem me impedir de fazer fumaça“. Eu sempre me amarrei em Yellowman, especialmente no melodia do refrão de Love It. Mas o resto da letra é bem toscão, portanto eu a re-adaptei para algo mais… palatável.
- Charles é da época em que eu tocava no Grajaú 434, e foi uma das primeiras feitas com a banda. Dessa vez, eu dei uma repaginada nela, mudando algumas partes da letra, e várias partes da base.
- Bom Senso é uma espécie de “Jorge Ben e seu violão foram passar férias na Jamaica, escutaram dancehall e chaparam o coco, voltaram pro Brasil, chamaram o Trio Mocotó pra colocarem uns apitos e pandeiros e gravaram o que deu na telha”.
- Paz da Mordaça fala sobre ser uma pessoa normal, com seus desejos comuns e necessidades universais, em meio a um grupo de pessoas que conscientemente incentiva sua loucura. Governantes, marketeiros, publicitários, jornalistas e super-artistas que não fazem arte alguma. Pessoas que vendem ilusões de grandeza, desinformação e necessidades supérfluas. Espanhóis e portugueses nos dando espelhinhos e malária. Paz da Mordaça começou como um reggae bem roots, por causa da linha de baixo. Como eu achei que faltava alguma cosita a más, meti uma batida meio hip hop e acrescentei teclados e guitarras sem qualquer parcimônia. A segunda parte da música continuava no reggae roots, daí eu acelerei o andamento e taquei uma batida meio cumbia/reggaton/dancehall, ou sei lá o quê. As frequências graves do baixo foram obtidas diretamente do centro da terra, ou da linha interestelar de Alfa Centauri, ou da barriga da minha mãe. Um desses aí.
- Sol na Lata começou como um rock básico, com batera bem retona e guitarras pesadas. Daí eu resolvi colocar uma batera eletrônica no estilo do Asian Dub Foundation. A música fala sobre aquele momento na vida em que você SABE o que tem que fazer. Se é que ele existe hehehe.
- O Homem Mais Bonito de Goianésia é um funk rock com guitarra pesada e violão, e uma homenagem à malandragem do pegador mais efetivo do Planalto Central.
- Baile é um funk pancadão com guitarras distorcidas, algo assim meio que tipo Comunidade Nin-Jitsu.
- Canino é uma homenagem à minha esposa. Se só ela entender a letra, já tá bom demais.
- Vô Caetano é uma ode à vida de eterno quebrado que tanto conhecemos: independente de estado civil, formação acadêmica, time de coração ou orientação sexual, a gente paga contas. É isso.
Esse disco foi o meu cartão de visitas, mostrando a mistureba de sons que me agradam, e me orgulho muito de conseguir faze-lo. Aprendi muito com ele sobre gravação, composição e sobre o efeito que uma letra pode ter sobre amigos, familiares e ouvintes.
A playlist a seguir mostra algumas músicas que usei como referência para compôr e gravar cada música do disco.